sexta-feira, 29 de maio de 2009

Humanamente impossível

- Bom dia! - disse o homem de cabelos grisalhos achegando-se à mesa da recepção da Casa Publicadora Brasileira.
- Bom dia - respondeu simpaticamente a recepcionista.
- Em que posso ajudar?
- Me chamo Marcos e gostaria de conhecer um de seus escritores.
- Claro, o senhor pode dizer qual escritor?
- Ellen White - respondeu o homem com um sorriso franco. Finalmente ia poder contatar a autora dos livros que leu com tanta voracidade.
- Desculpe-me, Sr. Marcos, mas Ellen White já não vive há quase um século.
O sorriso do leitor dissipou-se um pouco, mas ele manteve a compostura. Leu o nome da recepcionista no crachá preso à lapela e argumentou:
- Olha, Sra. Nadir, eu sei que a empresa deve ter a política de não ir fornecendo o endereço de seus escritores para qualquer pessoa, mas tenho um desejo real de mandar, pelo menos, um e-mail à Sra. Ellen White.
Foi a vez de Nadir manter a compostura. Ser recepcionista não é tarefa das mais fáceis. Faça chuva, faça sol, com pessoas simpáticas ou antipáticas, o sorriso deve sempre estar bem ali, mesmo quando alguém pede para conhecer um escritor que já faleceu há quase cem anos.
- Estou falando a verdade - insistiu a mulher, ainda sorrindo.
- Nadir - disse um rapaz se achegando à mesa, - você tem ai uma lista de ramais? Não sei onde foi parar a minha.
- Sim, Fernando - respondeu a recepcionista, entregou-lhe um papel e aproveitou a oportunidade:
- Sr. Marcos, este é o Fernando Torres, editor de algumas revistas da Casa. Talvez ele possa ajudar.
Fernando cumprimentou o homem e perguntou o que desejava. Ao ouvir a resposta, sorriu.
- Ok, Nadir - disse o editor. - Gostei da piada - parou por um breve segundo e viu que apenas ele estava sorrindo.
- É sério? Os dois confirmaram com a cabeça.
Fernando conduziu o homem pelos corredores da editora. Conversaram pelo caminho até chegarem a uma sala de reuniões. Ali estavam outros dois editores, Michelson e Sueli. Apresentou-lhes o visitante e seu pedido.
- Certo, Fernando - disse Sueli. - Gostei da piada.
- É sério! - concluiu Michelson, ao olhar a expressão de Marcos.
A convite dos editores, o visitante sentou e foi logo falando:
- Creio que há um acordo entre os funcionários da editora para não fornecerem o endereço da escritora Ellen White. Noutro dia, mandei e-mail para o SAC e, já que eu estava de passagem por Tatuí, resolvi vir até aqui, mas a resposta tem sido a mesma.
- De fato - disse Sueli. - A Sra. White faleceu há quase um século.
- Impossível - Marcos meneou a cabeça. - Você já leu os livros dela sobre saúde? Ou sobre educação? São todos assuntos e descobertas atuais. É humanamente impossível alguém escrever com tamanha propriedade sobre esses temas, quando sequer havia estudos embrionários sobre eles.
- Ela foi inspirada por Deus - Michelson falou. - Por isso sua mensagem é tão atual e correta.
- Impossível - insistiu o visitante. - Olha, eu só quero mandar um e-mail, ou uma carta. Quero dar minhas congratulações pelas obras dela. Ganhei uma coleção de um amigo e fiquei fascinado com tudo, em especial com a análise que ela faz do tempo em que vivemos.
- Não são análises - disse um homem de cabelos brancos, recostado no umbral da porta, com um maço de revistas embaixo do braço. - São profecias.
Os três editores olharam para a porta. Não haviam percebido que seu redator chefe, pastor Rubens Lessa, havia, há alguns minutos, chegado na sala e parado para acompanhar o assunto.
Ele entrou e cumprimentou Marcos. Sentou-se à mesa e pediu:
- Fernando, por favor, busque na biblioteca um exemplar do livro Fundadores da Mensagem.
Fernando assentiu e saiu da sala.
O editor, então, se apresentou e disse:
- Nós acreditamos que Ellen White foi inspirada por Deus para produzir seus escritos. Por isso ela pôde escrever com tamanha propriedade sobre vários assuntos.
- Educação - disse Sueli.
- Saúde - Michelson completou.
- Relacionamento familiar, história - concordou Marcos.
- Não sei se acredito nisso. É tudo muito exato e algumas coisas, em especial sobre saúde, ela jamais poderia ter escrito sem qualquer base científica. Eu pensei que ela estava fazendo uma espécie de resenha sobre as atuais descobertas da ciência nessa área.
- Podemos dizer que é uma resenha, mas foi o Autor da ciência quem deu para ela todas as informações para seus escritos - disse Rubens Lessa.
Fernando retornou à sala com alguns livros nas mãos. Entregou uma surrada edição do Fundadores da Mensagem para o redator chefe, que o abriu na página 142. Com o livro aberto, narrou um pouco da história da profetisa e, em especial, a parte em que o autor fala da morte dela, em 1915, e o último parágrafo: "Hoje... sua influência ainda vive através das milhares de páginas de seus escritos, e no imortal espírito de divina conquista que possuía."
O Sr. Marcos tomou o livro nas mãos. De fato, não tinha como argumentar. Ellen White estava morta, há quase um século. Conversou mais um pouco com os editores e recebeu de presente alguns livros da editora.
Ao sair do prédio da Casa Publicadora Brasileira, olhou para traz e sussurrou:
- Impossível - mas depois completou:
- Humanamente impossível.

2 comentários:

Advento disse...

Para vocês verem que Deus ao levantar a irmã profetiza Ellen White, Ele, como está escrito, passou uma resenha pra ela de tudo o que precisávamos; imaginem outras coisas maravilhosas que Ele quer nos revelar também,
não para sermos lembrados, mas para sermos a LEMBRANÇA DE UM "DEUS QUE AMOU O MUNDO DE TAL MANEIRA, QUE DEU SEU FILHO UNIGÊNITO, PARA QUE TODO QUE NELE CRÊ, NÃO PEREÇA, MAS TENHA A VIdA ETERNA." João 3 : 16

Denis Cruz disse...

Olá, querido irmão.

Sou escritor e o autor do conto acima. Infelizmente esse conto tem circulado pela internet e por emails como se fosse real.

Não é real. É ficção.

Eu escrevo histórias de ficção e esta foi publicada, originalmente, na minha área “Nem te conto”, do site www.outraleitura.com.br onde publico, justamente, histórias inverídicas.

Quando o publiquei no Outra Leitura (www.outraleitura.com.br), deixei uma nota ao final explicando que se tratava de uma ficção, mas algumas pessoas, creio, não atentaram para tal nota e o têm repassado como real.

Em virtude de tal dissabor, eu optei por retirar o conto do site.

Assim, meu irmão, peço a gentileza de retirar o conto do ar ou, se preferir, anotar, com letras garrafais e negritadas acima do conto, que se trata de uma história inverídica. (eu prefiro a primeira opção: DELETE).

Fico muito feliz com a leitura e boa recepção da história, mas lamento o inconveniente que eventualmente ele venha causando para as “personagens reais” que cito na história. Em nenhum momento foi minha intenção causar qualquer constrangimento, mas elevar o nome da CASA e da profetisa E. White.

Grato pela compreensão e pela leitura e um grande abraço

Denis Cruz
(deniscruz@deniscruz.com.br)